João Araujo Segurando a mão do filho Cazuza internado.
Composta em 1985 e lançada no álbum "Exagerado", "Codinome Beija-Flor" é amplamente considerada uma das músicas mais belas e admiradas de Cazuza.
Diferentemente de muitas canções que o cantor compôs durante sua época no Barão Vermelho, essa música é mais contida e filosófica. Essa característica tem uma estreita relação com o momento em que foi escrita: Cazuza compôs "Codinome Beija-Flor" enquanto estava de cama, internado em um hospital.
Essa música marca um ponto crucial na vida de Cazuza. Ela surgiu após sua saída do Barão Vermelho, quando ele enfrentava preocupações crescentes sobre o HIV. Desde seus últimos shows com a banda, Cazuza já estava lidando com problemas de saúde. Em 1985, foi internado com 42 graus de febre. Seus pais alugaram dois quartos em um hospital em Copacabana. Durante a internação, ele foi diagnosticado com uma bactéria no pulmão e fez seu primeiro teste de HIV, que deu negativo. No entanto, provavelmente foi um falso negativo. Na época, ele tinha 27 anos.
Cazuza em tratamento durante uma internação no hospital.
Durante essa internação de 11 dias, algo aconteceu que inspirou Cazuza a compor "Codinome Beija-Flor". Ele recebeu visitas de vários amigos, mas nenhum membro do Barão Vermelho apareceu, apenas Frejat telefonou. Entre uma visita e outra, Cazuza olhava pela janela e percebia a presença de beija-flores passando por ali. Então, Cazuza pediu para colocar vidro com água e açúcar para atrair os beija-flores, para que eles pudessem cantar para ele. Foi durante esse período que ele revelou estar compondo a música.
No início, o empresário Ezequiel Neves teve algumas dificuldades com a letra da música. Ele não entendia por que ela não tinha uma história definida. Cazuza fez outras duas versões, não porque precisasse da aprovação de Ezequiel, mas porque respeitava sua opinião. Ezequiel é até mesmo creditado na letra. Depois de finalizada, a letra foi enviada para Reinaldo Arias, responsável pela harmonia e melodia.
A música não tinha a sonoridade que tem hoje. A ideia original era que fosse mais dançante. Essa sugestão veio de Nico Rezende, produtor e pianista do álbum. Ele foi responsável pelos arranjos da maioria das músicas do primeiro disco solo de Cazuza. Ezequiel contou que Nico queria uma sonoridade mais suave, com ênfase nos teclados. Cazuza e Ezequiel queriam mais guitarras. Em "Codinome Beija-Flor", inicialmente não estava prevista a participação da guitarra, mas a música estava soando como "Maniac".
O significado da música é o seguinte: o beija-flor é um codinome para uma pessoa cujo nome Cazuza preferia não mencionar. Ele diz que protegeu o nome por amor. A ideia central é lidar tranquilamente com o fim de um relacionamento, embora o sentimento de paixão ainda persista. O beija-flor é um símbolo de leveza, representando uma pessoa livre, que vai de flor em flor, sem se entregar completamente. É por essa razão que o amor não consegue avançar. Cazuza explicou o significado da expressão "segredos de liquidificador" que ele utilizou na música, referindo-se aos segredos íntimos compartilhados na cama, momentos em que os ruídos podiam ser ouvidos por todo o bairro, como um gemido ou uma lambida na orelha.
Cazuza, Ney Matogrosso e Paulo Ricardo ao fundo.
Quanto à identidade da pessoa mencionada na música, a teoria mais forte é que se refere a Ney Matogrosso, um segredo que foi mantido por anos. Ney só revelou isso em 2003, no programa Fantástico. É possível que seja ele.
Além da reflexão do artista expressa nas letras, os versos são acompanhados apenas pelo piano e pelo violino, revelando um lado muito diferente de Cazuza, distante do garoto rebelde do Barão Vermelho. Imagine colocar o primeiro álbum solo de Cazuza para tocar e descobrir essa versão madura do cantor.
Dessa forma, a metáfora que se estabelece é a de um relacionamento que não termina bem, em que o amor ainda existe, e surge o sofrimento ao observar o outro seguir em frente, de pessoa em pessoa, como um beija-flor. E assim surge o codinome "beija-flor".
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